Acho
sempre que o granizo é chuva divertida...
Assim
como os bocadinhos de turbulência nos aviões animam as viagens que se podem
tornar algo monótonas se tudo passar sempre embalado naquele ruído das
turbinas, que se entranha e só sai dias depois. Normalmente, já depois dos
concertos terem acontecido...
Claro
que não incluo neste comentário pessoas que tenham medo de viajar de avião, o
que muito respeito. Mas se contar alguns apertos de mão que já tive de
emprestar a passageiros em pânico ao meu lado e, porque se comprova que a
turbulência não foi mais do que isso já que sempre cheguei bem a terra, então
estes são para a turbulência o que o granizo é para a chuva: divertidos. E
quase sempre levam a alguma conversa que ajuda a passar a viagem e a quebrar
alguns preconceitos sobre conhecer desconhecidos em momentos ou lugares
insólitos.
Quase
sempre serão pessoas que nunca mais vemos ou encontramos na vida, porque apesar
da era da comunicação generalizada, onde só não comunica quem não quer, há
certos encontros que têm esse quê de instantâneo, memorável, transformador... e
simples. Seres que não precisam conquistar o momento em trocas telefónicas, ou
gravar cada segundo em fotos para partilhar, nem contar a vida toda nos poucos
momentos que dura essa descoberta, nem ficar a pensar se terão conhecidos e
deixado fugir uma das suas possíveis almas gémeas (pois, parece que o mito de
uma só é realmente redutor...).
Quem
diz no avião, diz em qualquer outro lugar, situação, acontecimento, desde que
haja a abertura a esse fenómeno que mistura a divertida impressão do granizo
com a excitação reveladora da turbulência dos aviões (tenho de dar sentido ao
principio do texto...). Aquilo de que falo são talvez fracções de segundos em
abrimos os sentido e a rotina ao que se passa à volta e reagimos antes de
pensar, com a verdadeira natureza do nosso ser e com o impulso de estabelecer
contacto.
Imaginem
as passadeiras rolantes dos centros comerciais. Passar por alguém e sorrir
antes de comandar o sorriso. Imaginem uma caminhada solitária onde se cruzam
outros solitários e onde se descobrem por vezes pessoas com a solidão às
costas, em vez de ar no peito. Quantas vezes só o simples olhar leva a
descobrir que alguém os viu. Ou que fomos vistos. E confirma-se que
existimos...
Outra
que adoro: guichets, caixas registadoras, bilheteiras de qualquer tipo e o
impulso cada vez mais em extinção de cumprimentar com um vibrante bom dia. Boa
tarde. Boa vida. E de não esmorecer se o retorno for “humm! Ah, pois...”. Ou o
vazio... Conheço um mestre nesta arte, Ramón Maschio. Do alto do seu metro e
sessenta e muitos
agiganta-se em qualquer uma desta secções
num sonoro e cantado cumprimento. Que agita até os mais impenetráveis, em
qualquer lugar do mundo e no seu argentino internacional, e de repente tudo
mudou na sala, no espaço, no lugar...
Hoje
falo talvez de dormência crónica, a que resisto diariamente e em especial no
Inverno e que por épocas me domina mais do que gostaria de perceber. E de como o
granizo que há pouco vi cair ajuda a acordar e a saber que também nos invernos
da vida, há Vida. E que essa se pratica nas fracções de segundo onde sem
julgamentos, consequências, responsabilidades ou deveres podemos contrariar os
medos de chegar aos outros, sem com isso arriscarmos a extinção. Ou o ridículo,
que tanto tememos, nós os portugueses. Ou o erro de cálculo de não entendermos
que andamos todos ao mesmo, no mesmo “barco”. E de simplesmente nos
cumprimentarmos e reconhecermos por isso...
Se
daqui a um bocadinho passar por vocês e não vos cumprimentar... digam-me, ok?
que bonita foto :)
ResponderEliminarahhh adorei! digno de página numa BOA revista!
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