Enquanto
entro neste novo mundo da escrita e deste blog, surgem-me por diversas vezes
sinais curiosos de uma mudança em alguns dos meus “funcionamentos”, algo que
veio acontecendo de forma subtil e, de repente, como se explodisse por
impossibilidade de contenção, tomou conta da minha expressão, de forma natural,
pacífica e tranquila.
Acho
que se trata de um estado que há alguns anos procurava reencontrar, que não
sendo de impulsividade (a qual reconheço ter, de sobra...) é antes, neste caso
particular, de naturalidade. A tal “coisa” de se ser o que se sente,
o que apetece, o que acontece, o que sai. O que nos revela em verdade e
transparência. No que é de revelar. Nos aproxima de quem se revê nessa
realidade. E quem sabe contamina uns poucos a um exercício parecido.
Julgo
que se chama transparência. E nesse estado, que resulta provavelmente de se
diminuir uma percepção exacerbada que vamos criando sobre nós próprios, fruto
do nosso ego e dos egos ao nosso redor, acabo percebendo que é a escrita que me
domina e não os acontecimentos, ainda que pareça que ela acontece para vos
contar coisas... sim, é para isso, também. Mas, na verdade, é como se tivesse
sido quebrado o filtro do julgamento, da restrição, da avaliação pessoal e
alheia, e, finalmente, o que fica registado tem um propósito que nem eu
descubro qual, mas precisa sair. E ser partilhado, porque mais do que precisar
de sair, precisa chegar.
Claro
que não chegará a todos, porque essa é outra tranquilidade, finalmente
absorvida. As massas têm um propósito ilusório de grandiosidade que não me
convence nem ilude, já. A não ser as “al dente” com o melhor “aglio e olio
peperoncino”... E parmesão, claro;-)
Não
será alheio a este filtrar, o número de palavras e letras que percebo no fim de cada texto, um
teste de resistência a uma maioria que nem a este parágrafo chega. Não julguem
que se trata de seleção, segregação ou algo do género. Nem me reconheço esse
direito. É apenas a consciência que o caminho para se aprofundar seja o que
for, se for muito rápido, muito ligeiro, muito geral, é certo que será, com
grande certeza, efémero, também.
Mas
voltando à transparência...
Muitos
advogam a importância de se ficcionar uma figura publica, que não só proteja a
pessoa que lhe dá forma, como seduza inequivocamente um público sedento de quem
lhes reproduza os sonhos e fantasias pessoas.
Outros
defendem que, sem alimentar os fãs com os mais ínfimos detalhes da vida real do
alvo da sua admiração, o esquecimento será o mais provável dos desfechos.
E
outros ainda, sem estratégias ou manipulações, têm simplesmente um curso de
acontecimentos onde nada disso importa, porque o nível do seu trabalho e a
particularidade do seu público não se desviam do foco da sua Arte. E nem uns
revelam muito, nem os outros precisam de mais do que recebem.
Na
verdade descubro que estou fora de todas estas categorias, porque apesar das
semelhanças com a última, se não houvesse quem lesse o que escrevo e
pontualmente partilho, também este texto não tinha qualquer sentido:-)
E
finalmente, percebo o porquê deste regresso à transparência e ao “ser-me”.
Depois de entrar acidentalmente no universo da Música, de me contagiar em cada
poro com o Fado, de me comprometer de forma incondicional com os seus meandros,
de me perceber oficialmente Artista, profissional, dedicada e colectada nas
Finanças enquanto trabalhador independente e empresária na área das artes,
percebo que por maior respeito que tenha à minha Profissão, tenho infinitamente
mais à minha Pessoa.
E é
a Pessoa que sou, por dentro da Artista, da Amiga, da Mulher, da Filha, da
Irmã, da Tia, que me ocorre partilhar. Não há milímetro da história de quem me
rodeia que não tenha a autorização dos identificados, para estar. Como não há
milímetro que escolha partilhar que me vulnerabilize, por mais indistinta que
possa parecer a fronteira do profundo e do Muito profundo. A minha
vulnerabilidade, os meus receios, os meus medos, são cada vez mais as minhas
forças. Porque como sou eu, e lá vou aprendendo a “gostar-me”, não é que lhes
tenho certa afeição, agora que as reconheço?
Aos
indiferentes não fará nem mal, nem bem, nem diferença nenhuma.
Aos
mal intencionados, saberão mais que nunca a beleza da Boa Intenção, que será o
único retorno que terão.
Aos
duvidosos trará a percepção de quão criativa, curiosa e “desinstaladora” a
dúvida pode ser. A maior parte da minha visão tem raíz em dúvidas profundas com
que me fui deparando toda a minha vida. Até descobrir que também não eram as
certezas que me faziam falta... enquanto fui da dúvida à certeza perdi um precioso
tempo de convivência com a realidade. Simples.
E aos
que descobrem algum sentido e sintonia no que vivo e partilho, poderá
significar uma infinidade de coisas tão importantes quanto sabermos que não
estamos sós. Poderá ter uma pequena chave que faça a diferença em algum
momento. Uma dica que sirva de bóia para algum naufrágio. Poderá ser qualquer
coisa de útil. Oxalá.
Mas
ser-me em absoluto silêncio, privacidade, segurança e recato, pareceu-me ,
finalmente, um desperdício de uma Vida Boa…
Façam,
por isso, bom proveito de mim.
Mafalda, tropecei, afortunadamente, neste seu blog...e só para lhe comentar que até com prosa faz fado!!! :))) bem haja!
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